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Artigos abordam exposição ocupacional ao asbesto

Artigos divulgam resultados do “Projeto multidisciplinar sobre a exposição ocupacional ao asbesto e seus efeitos à saúde no Brasil”, coordenado pelos médicos e pesquisadores Eduardo Algranti, da Fundacentro, e Vilma Santana, do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA (Universidade Federal da Bahia). As publicações abordam a confiabilidade de diagnósticos de cânceres associados ao amianto no sistema de informação hospitalar (SIH/SUS); a estimativa do sub-registro de doenças típicas associadas à fibra no Sistema de Informações de Mortalidade; e análise das causas de mortalidade na coorte de expostos ao asbesto em Osasco/SP.

Confiabilidade de diagnósticos

O artigo “Concordância e validade dos diagnósticos de cânceres associados ao asbesto no sistema de informação hospitalar do Sistema Único de Saúde” foi publicado pela Revista Brasileira de Epidemiologia. “Para cânceres mais raros como o câncer de pleura (C 38.4) e o mesotelioma (C45), a acurácia da informação é bem inferior aos cânceres mais frequentes, como o câncer de pulmão (C34) ou laringe (C32). Nessas circunstâncias, os diagnósticos no sistema hospitalar não são muito apurados”, explica Algranti.

Nesse trabalho, o grau de concordância e validade dos diagnósticos de neoplasias malignas relacionadas à exposição ao asbesto registrados no SIH/SUS foi estimado a partir de comparação aos Registros Hospitalares de Câncer do Estado de São Paulo (RHC/SP). Analisaram-se óbitos entre 2007 e 2014. Houve o registro de 56.623 diagnósticos oncológicos no SIH/SUS e de 151.766 no RHC/SP, excetuando os casos de câncer de pele não melanoma.

“Tanto no SIH/SUS quanto no RHC/SP houve predomínio do sexo masculino, com 61,3 e 56,8%, respectivamente. A população acima de 50 anos correspondeu a 87,0% no SIH/SUS e a 84,8% no RHC/SP. Após o relacionamento probabilístico, 64,4% dos casos pareados foram do sexo masculino, e 56,2% acima de 60 anos”, afirmam os autores Diego Silva, Carolina Luizaga, Tatiana Toporcov e Eduardo Algranti.

Mortalidade em Osasco

Publicado no American Journal of Industrial Medicine, o artigo “Causes of death in former asbestos-cement workers in the state of São Paulo, Brazil” (Causas de morte em ex-trabalhadores de fibrocimento no estado de São Paulo, Brasil) traz análise realizada pela pesquisadora Gisele Fernandes em sua tese de doutoramento, a partir de coorte acompanhado pela Fundacentro desde 1995.

O termo coorte se refere a um grupo de pessoas, oriundas da população em estudo, que partilha uma experiência comum ou condição, cujo resultado é desconhecido no início da pesquisa. Nesse caso, avaliou-se a causa de morte de ex-trabalhadores expostos ao asbesto em Osasco/SP. O estudo acompanhou 988 ex-trabalhadores entre junho de 1995 e dezembro de 2016. Desses, 298 morreram, 361 continuaram vivos, e 329 tiveram os contatos perdidos.

“O artigo mostra claramente que a exposição ao asbesto na indústria de cimento-amianto tem excesso de mortes por doenças relacionadas ao asbesto, incluindo cânceres típicos e mortalidade do câncer global aumentada”, aponta Algranti. Além dele e Gisele, são autores do texto Victor Wunsch?Filho, Luiz Silva e Tatiana Toporcov.

Subnotificação

Na revista Occupational Medicine, o artigo “Underreporting of mesothelioma, asbestosis and pleural plaques in Brazil” (Subnotificação de mesotelioma, asbestose e placas pleurais no Brasil) estima o sub-registro de doenças típicas associadas ao asbesto no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM).

“Conduzido pela professora Vilma Santana, que através da compilação de óbitos em diversos sistemas de informação em saúde brasileiros que registram diagnósticos, apontou que no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) não apareciam cerca de 33% dos diagnósticos de mesotelioma e cerca de 40% dos diagnósticos de asbestose como causas básicas ou contribuintes de óbitos”, relata o pesquisador da Fundacentro.

“Embora esta análise seja baseada em dados secundários sem a possibilidade de que fossem investigados prontuários clínicos relacionados a esses óbitos, os resultados sugerem um forte sub-registro de doenças típicas relacionadas ao asbesto”, completa Algranti.

O estudo, com dados de 2008 a 2014, encontrou 1.298 registros de óbitos causados por doenças relacionadas ao asbesto. Desse total, foram 996 casos de mesotelioma (77%) e 302 (23%) de asbestose e placas pleurais. As comparações realizadas permitiram que se constatasse que outras 335 mortes por mesotelioma não foram registradas no SIM.

Os autores – Vilma Santana, Leonardo Salvi, Franciana Cavalcante, Felipe Campos e Eduardo Algranti – destacam a importância do treinamento da equipe e supervisão para a coleta de dados e gestão adequadas. É preciso tornar as vítimas visíveis, monitorar os expostos e proteger seus direitos trabalhistas.

Diálogo com a sociedade

Uma das formas de combater a subnotificação é ampliar o conhecimento sobre diagnósticos. Nesse sentido, as Diretrizes Brasileiras para Diagnóstico do Mesotelioma Maligno de Pleura, publicadas pela Coordenação-Geral de Gestão em Tecnologias em Saúde (Conitec) e organizadas pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) e pela Fundacentro, é uma referência.

Esse trabalho foi apresentado por Eduardo Algranti no 3º Seminário Internacional do Amianto: uma abordagem de vigilância em saúde, realizado em São Paulo/SP entre os dias 4 e 6 de maio. O evento reuniu ex-trabalhadores expostos ao amianto, profissionais de saúde, membros do Ministério Público do Trabalho, pesquisadores e outros especialistas para debater as questões mais atuais sobre o amianto no Brasil e em outros países. Uma ação que mostra como o diálogo com a sociedade é fundamental.

“As diretrizes vão ao encontro dos achados dos artigos. Existe não só o sub-registro, mas também o subdiagnóstico de cânceres associados ao asbesto. Essas diretrizes específicas do mesotelioma visam exatamente fornecer os instrumentos corretos para identificação desse câncer”, explica o pesquisador da Fundacentro.

“O foco do seminário foi predominantemente a vigilância das populações expostas ao asbesto após o banimento em 2017. Discutiram-se nas mesas o papel das associações de expostos, dos serviços públicos e da Academia, avaliando quanto os atores poderiam contribuir para a elaboração de um programa de vigilância”, completa Algranti.

O Seminário também mostrou como é importante dar visibilidade aos adoecidos, dando voz aos familiares de vítimas do mesotelioma no início do evento, e, no final, apresentando a pedra fundamental para a construção de um Memorial pelas vítimas de doenças relacionadas ao asbesto em Osasco.

A escultura mostra o trabalho como uma árvore, símbolo que representa o sustentáculo da vida. Os trabalhadores entregavam seu trabalho, para o seu sustento e da família, sem saber do risco que corriam. Uma contradição expressa pela árvore-pulmão. As linhas retas do tronco representam as fibras do mineral, os galhos superiores simbolizam o macrocosmo, e as folhagens, os pulmões das vítimas do amianto, espalhadas pelo mundo. A criação e concepção da arte é de W. Hermusche.

Outras publicações

O “Projeto multidisciplinar sobre a exposição ocupacional ao asbesto e seus efeitos à saúde no Brasil” resultou em outras publicações. O artigo “Recuperação de registros de câncer de laringe de bancos de dados anônimos de saúde” também foi publicado pela Revista Brasileira de Epidemiologia. Mais detalhes podem ser lidos em outra notícia do portal da Fundacentro. Outros dois artigos serão divulgados em breve.

Fonte: Fundacentro