Quem atua no campo também passa por diversos desafios quando o assunto é Saúde e Segurança do Trabalho (SST), que vão desde o uso de agroquímicos até questões ergonômicas, como má postura, excesso de peso e jornadas longas e sem pausas adequadas.
´Trabalhar com segurança é direito de todos os trabalhadores e vemos aí alguns setores onde há uma ocorrência de acidentes muito frequente. Nossa visão na área da engenharia é de trabalhar em projetos que possam promover condições de trabalho dignas´, destaca Uiara Bandineli Montedo, professora do Departamento de Engenharia de Produção da Poli-USP, que coordenou a 19ª Jornada de Ergonomia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em 2023, cujo tema foi ´Ergonomia e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável´.
A professora, no evento, falou de um treinamento em parceria com a Embrapa Alimentos e Territórios de Alagoas, com boleiras no setor da mandioca. ´Fizemos uma capacitação, e o que identifiquei que esses fornos têm uma configuração muito precária, não têm chaminé, então toda a fumaça tóxica vem diretamente nos olhos e no pulmão dessas boleiras´, pontua.
Por meio dessas vivências e parceria com o governo local, as trabalhadoras conseguiram reformar e construir novos fornos, o que melhorou as condições de trabalho dessas mulheres.
Normas Regulamentadoras no campo
A Norma Regulamentadora que rege o trabalho no campo é a NR-31, que visa estabelecer as normas de segurança e higiene nesses estabelecimentos rurais. Porém, quando o assunto é ergonomia, é a NR-17 que rege essas ações, auxiliando e adequando-se realidade das pessoas que atuam nesse ambiente.
E ações educativas é o primeiro passo para que essas pessoas sejam salvaguardadas. O Serviço Nacional Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) conta com o Programa Saúde do Homem Rural, iniciativa nacional realizada em todas as regiões brasileiras.
Em Santa Catarina, apenas em 2022, as ações atenderam 2.348 homens e, desde 2010, contabilizam 22.747 homens participantes, o que inclui o fomento à saúde, realização de exames preventivos, dentre outras atividades.
´As populações rurais têm acesso limitado aos serviços de saúde, o que pode aumentar a incidência de doenças e óbitos que poderiam ser evitadas. O programa contribui para facilitar o acesso a esses serviços, oferecendo consultas, exames e orientações gratuitas´, comemora Gilmar Antônio Zanluchi, superintendente do Senar/SC.
Já o Sistema FaemgSenar, de Minas Gerais, promoveu em abril um curso piloto com o tema, por meio do Escritório Regional de Uberaba e o Sindicato de Produtores Rurais de Frutal,a dez trabalhadores.
´As práticas da ergonomia colaboram para prevenir problemas de lesão por esforço repetitivo (LER), doenças psicossociais, afastamentos médicos e ausências de trabalho, promovendo assim, qualidade de vida e produtividade´, avalia Alexandre Martins, analista técnico de Formação Profissional Rural do Sistema, ressaltando que a iniciativa dissemina conhecimento aos funcionários das propriedades rurais, proporcionando um ambiente com mais capacidade produtiva e de bem-estar.
Outras iniciativas
Vale ressaltar que as condições físicas dos trabalhadores podem ser um desafio, haja vista que muitas vezes o local de trabalho não está pronto para receber pessoas com deficiência, por exemplo.
Um caso pertinente vem do Chile. Alfredo Carrasco, agricultor e cadeirante, fundou o FarmHability, espaço de produção agrícola que propõe formas de acessibilidade no campo, realizando oficinas e capacitações e busca conectar trabalhadores com deficiência com empresas do campo para a promoção de emprego.
À Agência Brasil, Carrasco conta que as adaptações feitas nos campos de cultivo são voltadas não apenas para cadeirantes, mas aos idosos e pessoas com mobilidade reduzida. ´Muitos deles, em algum momento se dedicaram à agricultura, trabalharam como agricultores. Por causa da idade, as empresas os demitiram. Nos demos conta disso e desenvolvemos um veículo adaptado´, conclui.
Fonte: https://revistacipa.com.br/ergonomia-tambem-e-importante-para-maior-qualidade-de-vida-e-produtividade-do-trabalhador-no-campo/